Pelo menos 400 médicos do hospital estão sem receber há mais de cinco meses e Santa Casa alega não ter dinheiro por falta de repasses da Prefeitura
Com salários paralisados há mais de cinco meses, médicos da Santa Casa realizaram um protesto pacífico na última segunda-feira (27). De acordo com o Sindicato dos Médicos (Sinmed), os profissionais afetados são da categoria PJ (Pessoa Jurídica) e somam quase 400 médicos. Em valores, o montante de pagamento é de R$7,5 milhões por mês, o que soma uma dívida que ultrapassa os R$37,5 milhões.
O atraso nos pagamentos tem afetado os atendimentos nas áreas de cirurgia cardíaca, pediátrica, vascular, plástica, urologia, anestesia, ortopedia, radiologia e anestesia. No entanto, pacientes para atendimento nas áreas de urgência e emergência estão sendo atendidos normalmente.
A Diretoria Corporativa Por Amor à Santa Casa afirmou que a manifestação dos profissionais é justa, pois o recebimento pelo trabalho é um direito de todo trabalhador. No entanto, alega que a Santa Casa não tem culpa no atraso, já que há um desequilíbrio financeiro com os repasses pela Prefeitura que já dura mais de dois anos.
“Nós atendemos 90% SUS [Sistema Único de Saúde] e todo esse processo feito pelo SUS, o contrato está em desequilíbrio há mais de 2 anos e vem trazendo situações onde está havendo atraso no pagamento. A gente pede a sensibilidade do poder público, que é o gestor pleno da saúde, para que dentro do processo que já está judicializado, possa entrar em um consenso para normalizar a situação que não é confortável para a Santa Casa que tem a função de salvar vidas e não é confortável para o município de Campo Grande que tem a obrigação de resguardar o bem maior da sua população. A gente espera que logo nos próximos dias isso seja resolvido”, afirmou a diretora-presidente, Alir Terra Lima.
“A nossa missão é salvar vidas, mas precisamos ter recursos e situação financeira para isso”.
No entanto, o presidente do Sinmed, o Dr. Marcelo Santana, alegou que a responsabilidade de normalização da situação é da Santa Casa, independente do atraso dos repasses por emendas parlamentares.
“Não houve nenhuma proposta de acerto para esses profissionais que estão com salários atrasados. Nós entendemos a situação, que a Casa alega não ter repasse adequado, no entanto, a obrigação de pagamento com funcionário ou com a empresa, pessoa jurídica, personificado pelo médico, é da Santa Casa. A gente se coloca à disposição para tentar resolver de forma política, mas independente de qualquer coisa, a obrigação do pagamento é do Hospital”, disse.
Cadê o dinheiro?
Ainda neste mês, a Santa Casa foi à Justiça para cobrar mais de R$45 milhões da Prefeitura Municipal de Campo Grande para que a instituição pudesse realizar o pagamento de dívidas milionárias com fornecedores, funcionários terceirizados (como os médicos) e contas de energia.
Na ocasião, a presidente Alir Terra afirmou que o repasse que vem da Prefeitura está “congelado” desde 2023 e, desde então, houve inflação e aumento dos custos hospitalares. A dívida, que estaria em R$32,7 milhões sem os ajustes, não seria suficiente para suportar a demanda do Hospital, que pediu a renovação do convênio corrigido para R$45,9 milhões e recomposição retroativa do repasse referente aos últimos dois anos sem reajuste.
A Justiça, no entanto, negou que o acordo fosse com o valor pedido pela Santa Casa, mas determinou que um novo contrato seja firmado dentro de 30 dias.
Em meados de março e abril desse ano, conforme informado pelo Correio do Estado, o hospital alegou níveis críticos de superlotação e que não admitiria novos pacientes, pressionando o poder público municipal e estadual.
Na época, a Prefeitura Municipal de Campo Grande (PMCG) repassava R$ 5 milhões mensais à instituição. Diante da pressão, foi acrescentado mais R$ 1 milhão por mês. Com isso, o repasse mensal da Prefeitura à Santa Casa passou a ser de R$ 6 milhões.
Além disso, ao mesmo tempo, o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (SES), que repassava R$ 9 milhões mensais à instituição, cedeu mais R$ 25 milhões, que foi pago em três parcelas até o mês de junho. Porém, mesmo com os novos repasses, a Santa Casa continuou em crise.
KARINA VARJÃO – correiodoestado
FOTO: Gerson Oliveira/Correio do Estado