Para urgências, UPA será porta de entrada antes do atendimento no Regional
O HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) confirmou nesta segunda-feira (18) que mesmo em caso de doenças raras ou crônicas, que necessitem de atenção de alta complexidade, deverão seguir a mesma orientação dada aos demais usuários do PAM (Pronto Atendimento Médico) do hospital para casos de demanda espontânea. A medida inclui os pacientes hemofílicos, que estavam apreensivos com a decisão.
A partir de agora, o hospital não receberá mais pacientes sem encaminhamento prévio. Em nota, o HRMS informou que “orienta que, em situações de urgência, os pacientes hemofílicos procurem a unidade de saúde mais próxima de sua residência”.
No Hospital Regional, continuará funcionando apenas o ambulatório específico para acompanhamento de pacientes hemofílicos, vinculado ao Hemosul. A unidade esclareceu ainda que o HUMAP (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian), ligado à UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), é o hospital de referência para esses atendimentos.
Segundo o HRMS, desde 8 de julho de 2019 já estava previsto, no Plano de Ação Regional da Rede de Atenção às Urgências e Emergências, que o atendimento fosse feito por encaminhamento de outras unidades. “Essa organização segue os princípios do SUS e garante a hierarquização da assistência”, destacou a instituição.
Preocupação – A decisão aumentou a apreensão de pais e pacientes hemofílicos em Campo Grande. Wanderley Espíndola Barrios, de 29 anos, padrasto de um menino de seis anos com hemofilia A moderada, afirma que o tratamento exige atenção constante.
Ele explica que a criança precisa de um medicamento que repõe a proteína 8 sempre que sofre cortes ou contusões que podem provocar sangramentos, inclusive internos. “O risco é de virar uma sequela mais grave, já que ele não tem fator de coagulação. Nossa preocupação foi confirmada, porque só temos como referência o Hospital Regional”, disse.
Wanderley acredita que o Estado tem o dever de garantir a vida dos pacientes hemofílicos, especialmente daqueles que não fazem uso de profilaxia e precisam do medicamento apenas em casos emergenciais.
A mesma preocupação é compartilhada por Neder Santos, de 43 anos, hemofílico A grave e representante da Associação dos Hemofílicos de Mato Grosso do Sul. Ele critica a falta de contrato de hematologia no município e lembra que os postos de saúde contam, em sua maioria, apenas com clínicos gerais. “Eles não têm preparo para lidar com o paciente hemofílico”, observa.
Neder afirma que pretende dialogar com representantes do Hospital Regional e do Hemosul para entender melhor a situação.
Risco – De acordo com os pacientes, problemas comuns de saúde, como gripe ou dor de cabeça, já são tratados em UPAs (Unidades de Pronto Atendimento). A preocupação é quando há sangramento.
“Ninguém procura o hospital sem ser por causa de um sangramento. Nos casos mais graves, principalmente de crianças, a medicação que temos protege só até certo ponto. Em acidentes ou traumas, é preciso outro tipo de tratamento. E a rede municipal não tem esse medicamento nos postos. Então, de um jeito ou de outro, a gente precisa do hospital”, reforça Neder.
Entre os temores está o tempo gasto até chegar a uma UPA, o que pode agravar o quadro. Além disso, os hemofílicos acreditam que a medida vai sobrecarregar as unidades, que depois precisarão encaminhar os pacientes de volta para o hospital.
A hemofilia é um distúrbio genético e hereditário que impede o sangue de coagular normalmente, provocando sangramentos internos e externos em casos de lesão.
Por Ketlen Gomes – campograndenwes
(Foto: Paulo Francis)